Ganta e Magari de Kimi wa Houkago Insomnia

Makoto Ojiro: um lugar aconchegante

Um breve comentário sobre as obras de Makoto Ojiro.

17/02/2023

Kimi wa Houkago Insomnia é provavelmente meu mangá favorito atualmente, eu reli algumas vezes e sempre me deixa com um sentimento de conforto e angústia enquanto leio. Foi o primeiro mangá da Makoto Ojiro que eu li, e por eu ter gostado tanto, tive curiosidade de ir atrás dos outros trabalhos dela. De certa forma, a mudança de tom do primeiro ao último é bem visível, mas cada mangá seguinte carrega alguns dos traços construídos nos anteriores. E é sobre isso que vou escrever aqui.

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Katekin

O primeiro mangá da autora foi Katekin em 2006.

Sachi um estudante de 14 anos recebe aulas particulares de Nana, uma mulher mais velha de 21 anos, ela na verdade não ensina nada pra ele e durante as “aulas” fica apenas passando o tempo deitada na cama do garoto, fazendo qualquer coisa aleatória menos ensiná-lo, por outro lado Sachi se esforça muito nos estudo, tanto para tentar ser alguém no futuro quanto para que Nana não seja demitida já que está “apaixonado” por ela.

Esse mangá é ecchi puro. Os extras do primeiro volume são basicamente a mangaká e seus assistentes comentando sobre erotismo nos quadrinhos, o que me fez pensar “Ok, o objetivo do mangá é esse”. É uma sessão bem engraçada então vou colocar um dos comentários da autora aqui:

Um balão de fala sobre uma bunda nua

Um balão de fala sobre uma bunda nua. Algo erótico que só é possível em quadrinhos. Não importa o que está escrito no balão, isso ainda soa erótico.

Katekin acaba sendo um mangá medíocre que tenta explorar a perversão de seus personagens, principalmente de Sachi que é um garoto no auge da puberdade. É um mangá ecchi fazendo coisas de mangá ecchi.

Koibito 8-gou

Ok vou ser sincero aqui, eu não li esse mangá, eu só encontrei ele em japonês e eu não sei ler japonês, mas julgando pelos lugares onde esse mangá aparece quando se busca o nome dele no google dá pra se ter uma idéia do que se trata… A autora ainda estava na fase “Ecchi”.

Zoo Factory

Um garoto é rejeitado por seu amor nos dias de escola e jura se tornar o maior acompanhante do Japão, isso acaba não acontecendo e ele é apenas mais um entre vários até que um dia uma mulher estranha aparece dizendo que aceitaria sair com ele se aceitasse ser tatuado por ela.

Esse One-Shot é meio estranho. É uma daquelas histórias que você lê e reflete por um tempo, “o que eu to fazendo lendo isso?”.

Fujiyama-san wa Shishunki

Fujiyama é uma garota de 181 cm sendo a ace do time de vôlei da escola, enquanto Kanba tem seus 160 cm e claro eles são amigos de infância. Ainda possuindo elementos de ecchi mas sendo MUITO MAIS LEVE que os anteriores, o mangá traz essa aura de romance inocente que em vários momentos vai te deixar com o coração quentinho.

O ritmo estava decidido aqui, a história segue na velocidade de seus personagens, acompanhando eles com calma e nunca correndo mais do que deveria. Existe um abraço que dura dois capítulos e eu digo com todas as palavras que você não vai achar chato assim como momentos que duram um quadro e você se lembrará pelo mangá todo.

Fujimiya-san é o início da Ojiro com Iyashikei, e eu só aprendi esse termo lendo os mangás dela.

Iyashikei são mangás no estilo Slice of Life, mas tem foco em ambientes calmos e vidas pacíficas e isso é a definição de Makoto Ojiro. Daqui em diante a mangaká começa a fazer páginas menos acinzentadas tendendo a serem mais claras e isso é algo, que quando bem feito, acaba dando uma sensação maior de tranquilidade nos leitores assim como Ruri Dragon fez no último ano.

Em Fujiyama vemos surgir algumas características que veríamos nas obras posteriores, como as belas páginas de céus estrelados, o templo onde o casal se encontra e os gatinhos que a Ojiro ama desenhar.

Adolescence of the Dead

Dois adolescentes são atacados por zumbis em meio a um festival de fogos de artifício.

Foi publicado em I Am a Hero Koushiki Comic Anthology: 8 Tales of the ZQN que é uma coletânea de histórias curtas sobre I Am a Hero (tem alguns autores conhecidos que participaram da coletânea como Junji Ito).

Praticamente um Iyashikei com zumbis que deixa com um gostinho de “quero mais” e o comentário da autora no fim do capítulo é muito interessante.

Desenhar isso foi divertido. Eu tentei me imaginar estando lá, mas se o mundo ficasse assim eu gostaria de deixar de ser humana logo, me tornar um dos ZQN e estar do lado que ataca.

Definitivamente preciso de um mangá apocalíptico feito por ela.

Neko no Otera no Chion-san

Gen é o protagonista mais “comum” da Ojiro, sociável e faz amizade com facilidade, se adapta a qualquer situação e até chega a ser popular. Ele morava na cidade grande mas decidiu ir viver no campo com sua prima distante, Chion, e sua tia avó em um templo da família que é dominado por gatos.

Esse mangá me ensinou o significado de Hygge, que é uma palavra em dinamarquês e norueguês que descreve um clima de aconchego e “convivência confortável” com sentimentos de bem-estar e contentamento, e é exatamente isso que você sente ao ler o mangá do primeiro ao último capítulo. Todos os personagens, até os menos desenvolvidos, acabam tendo seu carisma próprio e ganhando um pouquinho do amor do leitor.

A história cresce com o tempo, te deixando imerso naquele ambiente como se te convidasse para entrar no templo e tomar chá enquanto brinca com os gatos. Quando termina você se sente satisfeito com o desfecho de cada personagem, como se cada um deles tivesse encontrado seu próprio Hygge.

Kimi wa Houkago Insomnia

Ganta é um garoto que sofre com insônia e por isso sempre está com cara emburrada e cochilando em qualquer lugar que consiga. Um dia quando precisou ir até o observatório do do extinto clube de astronomia, que estava sendo usado como depósito, para buscar cartolina, ele percebe que é um lugar perfeito para poder dormir, mas olhando em volta encontra Magari, uma garota da sua turma, que dormia ali. Assim começa a saga de proteção do observatório, ressurreição do clube de astronomia e noites em claro tirando fotos das estrelas.

Insomnia é o mais polido dos trabalhos de Ojiro e cada aspecto que ela havia construído com o tempo nos outros mangás aqui se mostra no auge. O sentimento de conforto e aconchego, o ritmo que acompanha com calma os personagens, o desenvolvimento que não é expositivo e as páginas que te convidam para dentro delas, cada um aproveitado de uma forma espetacular. E o único até aqui onde não existe nenhuma cena de ecchi.

Algo que já aparecia nos outros mangás mas aqui fica muito mais evidente é como os personagens são desenvolvidos de forma natural, você não vai ver flashbacks contando seus passados tristes ou algo do tipo, você aprende sobre eles com o passar de cada capítulo como em uma conversa e se algo no passado do personagem for relevante ele irá nos contar.

A atmosfera vai se construindo nos pequenos detalhes como nos quadros isolados de um personagem bocejando, que mesmo não tendo dito você sabe que mais uma vez ele não conseguiu dormir, e pela primeira vez tendo um sentimento de melancolia que aos poucos vai se espalhando em contraste com o sentimento reconfortante que o quadrinho tem.

Inclusive já foi confirmada uma adaptação para anime e live action de Insomnia ambas para esse ano (2023):

anime
live action

Devaneio Extra

Quando eu li os mangás, eu fiz o caminho inverso, de Insomnia até Katekin então foi como uma pequena viagem no tempo e mesmo o estilo indo lentamente se distanciando do que seria um iyashikei, a arte e quadrinização da autora sempre foram impecáveis, sempre usando bem as cenas aleatórias do cotidiano em sua ambientação.

Pesquisando sobre a autora acabei encontrando uma entrevista que ela deu para um site Alemão. Me surpreendi quando ela disse como a Magari tem seu design inspirado na Vanellope de Detona Ralph e já o Ganta é basicamente “um estudante do ensino médio que você pode encontrar em qualquer lugar”. A mangaká também ressalta que tem muito carinho por todas suas obras, mas que gostaria que Insomnia fosse mais lido que as outras.

Desenho com a ambição de que o novo trabalho seja algo que me represente. Todos os trabalhos são importantes para mim, mas ficaria feliz se Kimi wa Houkago Insomnia fosse lido mais do que os outros mangás que criei até agora

Clique aqui para ler a entrevista completa, está em alemão mas o google tradutor é seu amigo.

Makoto Ojiro é, para mim, uma das maiores mangaká atuais, se consolidando no gênero Iyashike e brincando com os corações de seus leitores. As últimas três séries da autora (Fujiyama-san, Chion-san e Insomnia), se tornaram muito especiais pra mim e eu as recomendo fortemente até mesmo se você não for um grande fã desse tipo de história.

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